Em meio à pandemia, sobressai a necessidade de mudança na concepção de qualidade de ensino que tenha como único critério a formação científica do médico e não o bom desenvolvimento e a adaptação biopsicossocial do estudante. Estratégias de enfrentamento de problemas mentais gerados pelo estresse e pela ansiedade no momento de pandemia devem ser construídas para gerar um fator de proteção. É evidente que a saúde mental e o funcionamento psicológico ideal dos estudantes de Medicina são importantes para o treinamento de médicos eficazes. Atravessar esse momento de pandemia pela Covid-19 exigiu uma estratégia de coping para ajudar os alunos a vivenciar e extravasar seus medos, sendo a arte a melhor forma de expressão, além de mais bela, deixando como parte do legado deste momento histórico para as gerações futuras.
Ao Hospital São José
Como se enviada por anjos, ergue-se a
Casa de Isolamento.
Ali, a tuberculose, o sarampo, a crupe…
ganham tratamento.
À feição de milagres, vai aniquilando todo
mal infeccioso.
Já não se vê à beira do leito da meningite
algo tão pavoroso.
Tem braços de bondosa criatura, adota
abatidos enfermos:
Homens, mulheres, guris… febris,
sobreviventes do ermo.
Alcança o nome de santo porque fez o que
fez, e é o que é:
Padroeiro dos operários, dos imigrantes,
dos pais - São José.
O artesão com sua fina adaga desbasta
crostas, úlceras, pus.
Dia a dia livra doentes da urna e familiares
de maiores dores.
Angaria empenhos dos Lenhosos braços
de fiéis servidores.
Ensina a cura e não mensura os lírios e
nardos que tanto reluz.
Enchem-se de esperanças todos os que
percorrem suas rampas.
É imortal pois a eternidade vem da luz que
há tempo estampa.
por Melissa Medeiros
Em meio a desafios da carreira, responsabilidades com o trabalho e dedicação à família, algumas pessoas encontram, na arte, uma forma de expressão e relaxamento. É o caso de Elodie Bomfim Hyppolito, médica gastroenterologista e hepatologista do Hospital São José, e de Marcos Kubrusly, médico nefrologista e pró-reitor do Centro Universitário Unichristus. A segunda edição da Revista Viver São José apresenta o trabalho de ambos os profissionais, que são referências em suas respectivas áreas de atuação na Medicina e mostram uma notária habilidade com tintas e pincéis.
Cada um dos artistas expõe, nas telas, um olhar sensível e individual sobre diferentes realidades. Em seu trabalho, Elodie destaca as nuances da cultura nordestina com ênfase em manifestações artísticas e religiosas do Ceará. Já Marcos Kubrusly retrata, de forma subjetiva, as peculiaridades da pandemia de Covid-19, como enclausuramento, desespero e a esperança. Apesar de explorarem perspectivas distintas, os especialistas têm, em comum, o amor pela arte e pelas múltiplas possibilidades que ela oferece.
A arte é transformadora e envolve nossos corações, mentes e almas. Ela tem apelo universal e eleva a empatia, a compaixão e a conexão em nível individual. No âmbito social, a arte pode ser uma força unificadora para amenizar as barreiras da desigualdade e fortalecer as conexões interpessoais. A expressão criativa tem ainda o poder de melhorar o bem-estar, ajudando-nos na compreensão de nós mesmos e mudando as perspectivas que reforçam comportamentos positivos. Fisiologicamente, fazer arte tem efeitos poderosos sobre o corpo: reduz a pressão arterial, fortalece nosso sistema imunológico, melhora a cognição cerebral e combate a inflamação
.A arte contribui para “determinantes centrais da saúde; desempenhando um papel crítico na promoção da saúde; ajudando a prevenir o aparecimento de doenças mentais e declínio físico relacionado à idade; apoiar o tratamento ou gestão de doenças mentais, doenças não transmissíveis e distúrbios neurológicos; e assistência em cuidados agudos e de fim de vida” (Organização Mundial da Saúde - 2019).
A ideia de que a expressão criativa pode dar uma contribuição poderosa para o processo de cura foi adotada em culturas distintas. Ao longo da história, as sociedades usaram imagens, histórias, danças e cantos como rituais terapêuticos. Na verdade, embora a terapia artística tenha sido adotada clinicamente por mais de um século e tenha sido reconhecida como uma profissão desde 1991, muitos dos trabalhos publicados são de natureza teórica, com pouca discussão sobre resultados específicos. Apenas nos últimos anos surgiram estudos sistemáticos e controlados que examinaram os efeitos e benefícios terapêuticos das artes e da cura.
1. Traditional Medicine: Proposed Programme Budget for the Financial Period 1981 Geneva, Switzerland: World Health Organization; 1978 [Google Scholar] 2. Staricoff R, Loppert S. Integrating the arts into health care: Can we affect clinical outcomes?: Kirklin D, Richardson R. The Healing Environment Without and Within London, England: Royal College of Physicians; 2003:63–80 3. Stuckey, Heather L, and Jeremy Nobel. “The connection between art, healing, and public health: a review of current literature.” American journal of public health vol. 100,2 (2010): 254-63. doi:10.2105/AJPH.2008.156497