A conclusão de uma residência, seja na área médica ou multiprofissional, é um divisor de águas na carreira de muitos profissionais da saúde. Tendo como foco a Infectologia, o Hospital São José (HSJ) desponta como a unidade referência no Ceará para aqueles que desejam se especializar no diagnóstico e no tratamento de doenças infectocontagiosas. A instituição possibilitou, em cinco décadas de atividades, a formação de mais de 100 residentes, fornecendo não apenas conhecimento teórico e prático, mas também uma especialização qualificada, humana e ética.
Criado em 1977, o Programa de Residência Médica (PRM) do HSJ formou, entre 1988 e 2021, 73 infectologistas e quatro infectologistas pediátricos. Já a Residência Integrada em Saúde (RIS) foi implementada na unidade hospitalar em 2016 e, desde então, contribuiu para a especialização de cerca de 50 profissionais, entre enfermeiros (as), farmacêuticos (as), psicólogos (as), fisioterapeutas, assistentes sociais e nutricionistas. Para além dos números, há histórias de pessoas que possuem em comum a paixão pela Infectologia e o apreço pelo São José, onde dedicaram tempo e atenção aos pacientes.
A Revista Viver São José traz nesta edição depoimentos de médicos e outros profissionais da área da saúde que tiveram a oportunidade de realizar residência no hospital e crescer profissionalmente com todos aprendizados e desafios vivenciados na instituição. Os relatos evidenciam a importância do período de formação e, sobretudo, o compromisso com a vocação de cuidar do próximo e salvar vidas.
DEPOIMENTOS DE MÉDICOS QUE REALIZARAM A RESIDÊNCIA MÉDICA EM INFECTOLOGIA NO HOSPITAL SÃO JOSÉ
Christianne Takeda – infectologista e diretora clínica do Hospital São José
A residência em doenças infecciosas no Hospital São José me trouxe o conhecimento disciplinar avançado e habilidades necessárias para que eu possa ajudar na melhoraria dos resultados de saúde da população, no controle de doenças infecciosas e emergências de saúde nos mais variados contextos e configurações. Foi durante a residência que eu tive a primeira oportunidade de trabalhar com profissionais com um conhecimento avançado dos aspectos de saúde pública de vigilância e inteligência em doenças infecciosas e de ----------vivenciar situações de investigação e resposta a surtos, prevenção e mitigação de infecções. É com orgulho que olho para o legado desse programa de residência, que não somente forma profissionais competentes que praticam a assistência humanizada durante seu trabalho clínico, mas também forma indivíduos que atualmente ocupam ou ocuparam funções de liderança em serviços públicos e privados, abrangendo Ministério/ secretarias de saúde; distritos de saúde locais; funções de serviço público relevantes para os determinantes sociais da saúde; além de organizações não governamentais no Ceará e em outros estados do Brasil.
Edson Buhamra – infectologista e diretor-geral do Hospital São José
Eu entrei no Hospital São José como estagiário e, desde o primeiro dia, percebi que gostaria de trilhar meu caminho aqui. Quando um médico sai da faculdade e entra na residência, é um universo que se abre. A residência no São José, por ser voltada exclusivamente a doenças infectocontagiosas, permite que os profissionais possam fazer uma imersão na área. Concluir esta etapa no HSJ me trouxe muita satisfação e vontade de me aperfeiçoar cada vez mais como especialista. A residência nos dá um norte e alicerce para atuar na Medicina. Além disso, é um período muito rico que nos proporciona conhecer profissionais de diferentes categorias e pacientes com suas particularidades e histórias.
Tânia Mara Silva Coelho – infectologista e secretária executiva de Atenção à Saúde e Desenvolvimento Regional da Sesa
Fazer residência no HSJ foi a realização de um sonho, pois, desde que eu era estudante de Medicina, ao fazer estágio acadêmico, me apaixonei pelo hospital. Apesar de ser um hospital pequeno, a humanização e o respeito que os profissionais que lá trabalham têm pelos pacientes e pela instituição é cativante. Além disso, a possibilidade de ter contato com as mais diferentes doenças torna o HSJ uma referência para todo estudante de Medicina. Ter sido residente do HSJ contribuiu para que eu me tornasse uma pessoa melhor em todos os sentidos, mas, sobretudo, me tornou uma pessoa mais sensível à dor do próximo.
Lauro Vieira Perdigão Neto – infectologista e diretor técnico do Hospital São José
A assistência prestada pelo HSJ traz os princípios do Sistema Único de Saúde como pilares,
levando o residente à formação responsável e humanizada, enfrentando com
supervisão adequada as heterogêneas realidades sociais. Invariavelmente, os residentes deixam o
programa com a sensação de dever cumprido, gratos pela capacitação e lúcidos das
qualidades e limitações do sistema de saúde pública no país. Não foi
diferente comigo. Fui aluno desse programa e sou testemunha de que a residência do HSJ contempla seus
objetivos de forma irretocável. Proporcionou a mim e aos demais residentes o convício com
líderes extremamente qualificados e profissionais assertivos técnica e eticamente. Ter sido treinado
por eles foi de grande satisfação pessoal e profissional.
A dedicação para a obtenção do grau de especialista é uma forma de ajudar a
melhorar o sistema de saúde do país. Essa trajetória árdua, mas gratificante, é a
residência. Ela me permitiu conciliar conhecimentos teóricos e práticos e conhecer os caminhos
da assistência, do ensino e da pesquisa.
Ruth Maria Oliveira de Araújo – infectologista e coordenadora do Escritório da Qualidade e Segurança do Paciente do HSJ
Foi no Hospital São José que descobri o real sentido de residência. Ali fiz amigos queridos que me acompanham até hoje. Ali eu chorei e vibrei a cada alta, a cada paciente difícil, a cada vez que a sensação de impotência me dominava por ver aquela gente sofrer tanto. O São José é diferente de todos os hospitais em que já estive! É acolhedor, é humano, é até engraçado com seus “causos” que só tinham como acontecer lá mesmo. Não tem como não se apaixonar pelos colaboradores que se dedicam e vestem a camisa; pelos pacientes tão sofridos e tão gratos; pela Infectologia, especialidade fascinante que escolhemos e que se faz presente a cada passo naquele ambiente. Depois da residência, tive a honra e o prazer de continuar no quadro de médicos como plantonista, ajudando no enfrentamento de algumas epidemias (dengue e H1N1, por exemplo). Depois, como preceptora da Unidade D, o local que mais me ensinou Medicina na vida. Me ensinou também sobre humanização, solidariedade, caridade, empatia e respeito pelo ser humano.
Melissa Soares Medeiros – infectologista, professora e pesquisadora
Ao iniciar o programa de residência, o HSJ se tornou minha segunda casa. Aqui passei dias e noites com a
família que a profissão me deu de presente. O amor e cuidado com os pacientes me tornaram um ser
humano melhor. Aprendi a caminhar pelo campo da pesquisa em Infectologia e ensinar os internos e estagiários
que aqui passaram, desenvolvendo meu potencial como professora. A residência me preparou plenamente para o que
me tornei hoje: médica, pesquisadora e professora.
Durante a residência, desenvolvemos habilidades para o manejo clínico do paciente e a tomada de
decisão, desenvolvemos também nosso conhecimento através das discussões de
atualização e artigos científicos nas sessões clínicas, além da nossa
atitude de profissionalismo que nos prepara para atuar no mercado de trabalho. O HSJ tem uma residência
completa que pode ser evidenciada na projeção dos seus ex-residentes no mercado de trabalho atual e
suas atuações nos diversos hospitais públicos e privados.
Depoimentos de profissionais que realizaram a Residência Integrada em Saúde no Hospital São José
Claudevan Freire, farmacêutico
O início de um uma residência multiprofissional mostra ao profissional recém-chegado que o campo de atuação é uma escola de muito aprendizado, desafios e conquistas na terapia dos doentes e no crescimento profissional e pessoal, com a participação de coordenadores, preceptores, profissionais da instituição e dos nossos usuários do serviço. Trabalhar de forma multiprofissional fez-me perceber que o doente é um sujeito completo complexo que necessita de uma avaliação e acompanhamento de vários profissionais para um único desfecho: o sucesso terapêutico do paciente. Nesse momento, podemos perceber como os diversos cuidados se complementam, e muitos usuários percebem que tem muita gente que o assiste e que se preocupa com sua evolução clínica. E assim vão-se mais de cinco mil horas. Ao final de dois anos, essa bagagem está cheia. É hora de se despedir dos coordenadores e preceptores e dos amigos que ficam. O bom de tudo isso são as sementes cultivadas através de trabalhos conjuntos e projetos a fim de melhorar a assistência do serviço e a aplicação dos serviços do residente na próxima instituição como mão de obra qualificada e conhecedora dos fluxos do seu serviço e de outros setores afins.
Ranielle Barbosa Saraiva, nutricionista
Através da residência, tive a oportunidade de adquirir experiência na área hospitalar e aprimorar meus conhecimentos, resultando na melhoria da qualidade dos atendimentos multiprofissionais. Nesse período de dois anos no qual fui residente, me senti uma profissional mais capacitada para encarar novos desafios e fazer a assistência cada vez mais acontecer. Hoje, como egressa, posso dizer que a residência vai além do conhecimento teórico, ela nos torna um novo profissional, com visão ampliada diante do cenário hospitalar, que não foca somente nos indivíduos/ paciente, mas em outras dimensões diante da rotina hospitalar. Além disso, a mesma nos permite vivenciar outros níveis assistenciais, proporcionando distintas experiências, favorecendo uma prática nos diferentes níveis de atenção do SUS. Ser resistente do Hospital São José me proporcionou um vasto aprendizado que foi além da teoria/ prática. Me transformou em um ser humano mais empático e uma profissional mais humana, pois neste local aprendi diversas lições e uma delas é cuidar.
Ana Ravenna Sales Soares, fisioterapeuta
A residência é um divisor de águas na vida de qualquer profissional de saúde, pois nos permite a qualificação profissional já inserida na prática. Diferentemente de outras especializações, onde há apenas aulas, na residência desenvolvemos a prática diariamente nos cenários. Associado a isso, temos a parte teórica. É uma formação completa. Ser residente no Hospital São José foi, para além da parte profissional, uma experiência de vida! São sessenta horas semanais em que atuamos em conjunto com outras profissões, desenvolvemos também elos e vínculos. Cuidamos e reabilitados diversas vidas, ouvimos inúmeras histórias... É como eu digo: tocamos e somos tocados. Sou eternamente grata pela oportunidade de ter vivenciado e me especializado em Infectologia nesse hospital e feliz por continuar fazendo parte desta casa (não mais como residente) e exercendo a especialidade que escolhi pra vida.
D'avila Rodrigues, assistente social
A nossa atuação une teoria e prática, ou seja, é um processo contínuo de aprendizagem, tornando o usuário alcançado por todas as ações, considerando suas subjetividades e o contexto socioeconômico em que ele está inserido para traçarmos uma intervenção de acordo com suas possibilidades. Este modelo interventivo é primordial nas ações em saúde, por isso a residência multiprofissional tem seu papel importante, necessitando de maior valorização e entendimento sobre nosso papel dentro da instituição. O campo de prática com ênfase em Infectologia tornou-se minha realização profissional, porque foi no hospital São José que pude dar concretude ao meu exercício enquanto assistente social. A minha visão do processo não é romantizada, mas sim crítica, pois aqui eu pude ver de perto o quão árduo é garantir direitos de pessoas que vivem com doenças estigmatizadas pela sociedade, porém ratifico que os fluxos para a efetivação desses direitos tornam-se mais leves quando são partilhados e conhecidos por todas as categorias profissionais.
Gisele Menezes Dutra, piscóloga
A residência em Psicologia Hospitalar foi um objetivo profissional desde a graduação e ingressar na residência em Infectologia foi a realização desse sonho. Foram dois anos, um total de 5.760 horas de trabalho para o SUS, muito estudo e experiências desafiadoras. Esse percurso me proporcionou oportunidades incríveis e foi essencial para meu amadurecimento como profissional e como ser humano. O HSJ foi a minha casa. Hoje, integro o núcleo de Psicologia do HSJ.
Jéssica Karen de Oliveira Maia
A Residência Integrada em Saúde foi um divisor de águas em minha vida profissional. Principalmente por ser multiprofissinal, me possibilitou vivenciar e participar ativamente do cuidado das outras profissões. Logo, meu cuidado se tornou mais humanizado devido a isso e nos preocupávamos com o que ocorreu antes da internação e até o momento da alta. As múltiplas facetas do paciente o tornavam único, logo ele necessitaria de um cuidado personalizado. Além disso, a vivência no HSJ fez eu me encontrar profissionalmente e me apaixonar pela Infectologia. Tudo isso eu devo aos nossos pacientes e a profissionais marcantes distribuídos em todo hospital que me transformaram. Hoje posso dizer que sou melhor como profissional e principalmente como ser humano.
Programa de Residência Médica (INFORMAÇÕES PARA BOX)
O primeiro Programa de Residência Médica (PRM) do Hospital São José foi criado em 1977 e, à época, era denominado PRM em Doenças Infecciosas e Parasitárias. O Programa era realizado em parceria com a Secretaria da Saúde do Ceará e tinha duração de dois anos. Em 1987, a Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM) determinou a criação das Comissões Estaduais de Residência Médica. A partir daí, houve um controle maior e a normatização mais unificada dos PRMs. Em 1988, após autorização concedida pela CNRM para a oferta de vaga do PRM em Doenças Infecciosas e Parasitárias, iniciou-se o processo de credenciamento provisório do Programa. Em 1991, foi solicitado formalmente o credenciamento definitivo do PRM em Doenças Infecciosas e Parasitárias, com parecer favorável da CNRM em 1992. O PRM em Doenças Infecciosas e Parasitárias foi suspenso em 2002 e houve credenciamento do PRM em Infectologia, também de acesso direto e com três anos de duração.
Residência Integrada em Saúde (INFORMAÇÕES PARA BOX)
A Residência Integrada em Saúde (RIS) possui caráter interfederativo, interinstitucional, interprofissional, intersetorial e interiorizado. Criado a partir da promulgação da Lei n° 11.129, de 2005, o programa é conduzido político e pedagogicamente pela Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP/CE) desde a concepção, em 2011. A RIS oferta educação em serviço, qualificando para o exercício profissional diferentes categorias que integram a área de saúde. A Residência tem como objetivo ativar e capacitar lideranças técnicas, científicas e políticas, por meio da interiorização da Educação Permanente Interprofissional, na perspectiva de contribuir para a consolidação da carreira na saúde pública e para o fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS). A Residência atua, por exemplo, no campo da pesquisa, promoção da saúde, extensão, educação permanente em saúde, formação política e qualificação político-pedagógica.