Ricardo Coelho1, Lisandra Damasceno2 e Melissa Soares Medeiros3

 

1. Médico pneumologista do Hospital São José e coordenador do Centro de Ensino, Aperfeiçoamento e Pesquisa  (Ceap) 

2. Médica infectologista do Hospital São José; professora e pesquisadora do Departamento de Saúde Comunitária da UFC

3. Médica infectologista do Hospital São José; professora e pesquisadora do Departamento de Infectologia da Unichristus

 

O Hospital São José de Doenças Infecciosas (HSJ), da Secretaria de Saúde do Ceará (Sesa), é uma unidade de ensino, pesquisa e educação permanente. Forma profissionais médicos no campo da Infectologia desde 1988, por meio da Residência Médica (RM), com duração de três anos. Em 2017, o HSJ passou a formar infectologistas pediátricos após a implantação do Programa de Residência Médica para esta especialidade, que tem duração de dois anos, tendo como pré-requisito residência médica em Infectologia ou Pediatria. 

Além de médicos, o HSJ forma anualmente profissionais de diversas áreas que compõe a Residência Integrada em Saúde (Ris), com duração de dois anos e ênfase em Infectologia, que teve início em 2013, por meio da Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP/CE), garantindo a ampliação da educação permanente multiprofissional no Estado. O HSJ também é campo de estudo para residentes médicos de outras instituições, alunos do internato e da graduação dos cursos de Ciências da Saúde. A unidade recebe estudantes de várias Instituições de Ensino Superior (IES) do Ceará para estágio curricular e extracurricular.

O São José é uma instituição que apresenta amplo e diversificado campo para a prática de ensino das doenças infecciosas e parasitárias. Conta com enfermarias para internamentos, duas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), ambulatórios para diversas doenças endêmicas e negligenciadas, laboratório de Microbiologia, Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), Serviço de Cuidados Paliativos, setor de Farmácia, Programa de Atenção Domiciliar (Pad) e Serviço de Endoscopia. Todos esses setores são campo de estágio para os profissionais e alunos das graduações de Saúde, que se encontram sob orientação ou supervisão de preceptores, professores e profissionais colaboradores do HSJ e de outras IES conveniadas ao hospital. Atividades interdisciplinares são desenvolvidas à beira-leito em algumas enfermarias e nas UTIs. 

Em meio ao ensino e aperfeiçoamento profissional, o HSJ se destaca pela sua peculiaridade de ser uma instituição hospitalar voltada para o atendimento de doenças infectocontagiosas, sendo, portanto, uma fonte perene para a produção de pesquisas, inovações científicas e de conhecimentos sobre possíveis agentes infecciosos novos e as doenças decorrentes destes. Neste ambiente, como parte do Centro de Estudos, Aperfeiçoamento e pesquisa (Ceap), surge uma das suas ramificações, o Núcleo de Pesquisa (NP), que se consolidou durante a pandemia e tem como principais objetivos: elaborar o plano anual de pesquisa; regular, tramitar, cadastrar, supervisionar, incentivar e divulgar a realização de projetos e trabalhos científicos; supervisão de pós-graduação stricto sensu; realizar relatório técnico semestral; supervisão e coordenação de produção científica; estabelecer linhas prioritárias de pesquisa e promover capacitação em pesquisa científica.  

 

ARTE 1(Objetivos do Núcleo de Pesquisa (NP)). 

 


ARTE 2 – Ceap no organograma institucional do HSJ:


O NP é responsável pela avaliação dos projetos de pesquisa enviados ao Comitê de Ética em Pesquisa (Cep) antes da submissão à aprovação pela direção do hospital. O Núcleo permite uma maior visão institucional das atividades científicas relacionadas à pesquisa realizadas dentro dos muros do HSJ, além de estimular e orientar o desenvolvimento de novas propostas de pesquisa desenvolvidas pelos profissionais de saúde na instituição. 

Atualmente, os residentes das diferentes áreas que se aperfeiçoam na unidade apresentam seus trabalhos de conclusão de curso  (TCC) após desenvolvimento durante seu estágio no hospital e  utilizando as infindáveis possibilidades disponíveis de temas, seja na Medicina, Enfermagem, Farmácia, Psicologia, Serviço Social, Nutrição e Fisioterapia. As próprias epidemias fornecem material novo para desenvolvimento de pesquisas, como temos visto repetidamente com as arboviroses e doenças tropicais. O São José é, ainda, um centro de referência para atendimento a pessoas soropositivas, com experiência desde 1981 no acompanhamento e tratamento desses pacientes, seja nos leitos de internação ou nos ambulatórios especializados. Com a pandemia de Covid-19, o HSJ voltou a ser foco de procura de pesquisadores de todo o Estado, bem como oportunidade para desenvolvimento de projetos internacionais. 

O desenvolvimento da Revista Viver São José teve como objetivo primordial mostrar à sociedade um vislumbre do trabalho realizado na instituição e a produção da ciência decorrente desta. Com a apresentação dos trabalhos científicos nas páginas da revista, buscamos despertar o interesse na publicação nos estudantes que adentram a instituição na ânsia de produções de artigos e novos conhecimentos. A publicação é, portanto, um instrumento de culminância do trabalho realizado pelo NP. 

 “Estimar, tanto quanto a meus pais, aquele que me ensinou esta arte”, diz um pequeno trecho do juramento de Hipócrates, peça simbólica que até hoje inspira os jovens médicos durante a solenidade de encerramento do curso. Não por acaso, a arte do cuidar sempre esteve intrinsecamente ligada ao dever de transmitir o conhecimento, de compartilhar o que se aprendeu e, com isso, honrar cada vez mais o bem maior que é a vida.

Historicamente, o ensino sempre agregou qualidade ao atendimento em saúde, seja pela formação mais criteriosa dos profissionais, seja pela expansão do saber para locais mais distantes dos centros de referência ou mesmo pela possibilidade da produção de mais conhecimento, gerando um círculo virtuoso que maximiza os benefícios e reduz os riscos para os usuários.

Atualmente, não se concebe o planejamento estratégico de um hospital que não priorize a melhor forma de alinhar o aprendizado às práticas assistenciais como meio de tornar a atenção à saúde uma ação mais ampla e diferenciada. O estudante, o estagiário, o residente, o tutor, o pesquisador e o preceptor são figuras fundamentais no processo de crescimento e desenvolvimento de uma unidade hospitalar, porque sua dinâmica de trabalho estimula, instiga, fiscaliza e cobra um maior rigor nas ações de todos os profissionais, o que garante melhor qualidade do atendimento ao paciente. Além disso, é bem estabelecido que hospitais que possuem seus núcleos de ensino, pesquisa e educação permanente mais desenvolvidos têm suas ações mais organizadas e sua gestão mais eficiente.

Cientes da importância estratégica dessa atividade, desde cedo as instituições de saúde, principalmente aquelas ligadas às universidades, se preocuparam em incrementar a área do ensino, que posteriormente absorveu a produção científica gerada pelas pesquisas e, mais recentemente, o núcleo de educação permanente, que garante à instituição rever e otimizar continuamente seus protocolos e processos assistenciais. Estavam assim criados os Departamentos de Ensino e Pesquisa (DEP), que, pela sua importância, acabaram expandindo suas ações para praticamente todos os setores do hospital.

Nos nosocômios que não estão ligados diretamente a instituições de ensino e nem têm diretorias específicas nessa área, a função didática coube aos Centros de Ensino, Aperfeiçoamento e Pesquisa (Ceaps), que foram criados com o intuito de aglutinar todas as atividades de produção (pesquisa), alicerce (ensino) e difusão (educação permanente) do conhecimento. 

Os Ceaps têm a missão de acolher o aprendiz e seu mestre, oferecendo seus espaços acadêmicos e demais cenários de práticas, e propiciando o melhor ambiente possível para o processo educacional. Além disso, os centros de estudos, como são resumidamente chamados, detêm o objetivo de organizar e fomentar a geração de conhecimento por meio de pesquisas que sejam de interesse da instituição à qual estão vinculados. Por último, coordenam o importante trabalho de desenvolvimento e divulgação dos protocolos e diretrizes estratégicas do hospital para todos os colaboradores, dentro do plano estratégico da unidade e alinhado com as políticas de saúde vigentes. 

O espaço físico para o desenvolvimento das atividades teóricas de ensino no HSJ é o Centro de Ensino, Aperfeiçoamento e Pesquisa, que conta com auditório e salas de reuniões, além de uma biblioteca. O Ceap é formado por três núcleos de atuação, o de Ensino, o de Pesquisa e o de Educação Permanente.

O Núcleo de Ensino (Nuen) é um eixo do Ceap que surgiu em julho de 2020 a partir da necessidade de reorganização das diversas linhas do eixo Ensino (residência, internato e estágios). Ao longo do primeiro ano do Nuen, as atividades tiveram que ser interrompidas devido à pandemia. Desde então, o Nuen vem tentando desenvolver o projeto pedagógico da RM e Ris em parceria com as supervisoras das residências. O Nuen tem como desafios desenvolver projetos e indicadores que visem aprimorar a preceptoria da RM e Ris; implantar novas tecnologias educacionais através de metodologias ativas e realizar autoavaliação das linhas do eixo ensino. 

Entretanto, no contexto atual da Pandemia de Covid-19, o eixo do Ensino teve que se adaptar a uma nova realidade. Aos poucos, o modelo de ensino remoto para as atividades teóricas da residência foi sendo implantado, adotando como tecnologia educacional aulas expositivas e apresentação de artigos científicos pela plataforma Google Meet. Os estágios, o internato em Medicina e de outras graduações em saúde foram suspensos por alguns meses. Atualmente, as atividades estão sendo retomadas gradativamente, e o HSJ passou a receber novamente residentes (médicos e de outras profissões) e internos de outras instituições para o estágio de campo. As atividades teóricas seguem em modelo híbrido de ensino.

 

Bem-sucedidos, os Ceaps propiciarão – a quem já tem a dádiva de aliviar o sofrimento humano – outro tesouro inestimável já traduzido nas palavras sábias de Cora Coralina: “Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina”.