André Jailson Cabral da Silva, Darcielle Bruna Dias Elias¹
1. Departamento de Ciências Exatas, Escola Profissional de Aracati, Secretaria de Educação do Estado do Ceará – SEDUC-CE. Departamento de Farmácia, Faculdade do Vale do Jaguaribe – FVJ
INTRODUÇÃO
O coronavírus é um agente zoonótico recém-emergente que surgiu em dezembro de 2019, em Wuhan, China, causador da Síndrome Respiratória Aguda Grave 2 (abreviado para SARS-CoV-2, do inglês Severe Acute Respiratory Syndrome Coronavirus 2), anteriormente conhecido como novo coronavírus (2019-nCoV), acarretando manifestações respiratórias, digestivas e sistêmicas, que se articulam no quadro clínico da doença denominada Covid-19 (do inglês Coronavirus Disease 2019).1-4
Devido à emergência do novo coronavírus, os laboratórios de agências privadas e públicas do Brasil e do mundo necessitaram se adequar à mesma velocidade em que a pandemia se instalou para atender com segurança à crescente demanda pelos testes diagnósticos. Os testes de diagnóstico para SARS-CoV-2/Covid- 19 se destacaram na pandemia de coronavírus em andamento como uma ferramenta essencial para rastrear a propagação da doença.3,4
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o diagnóstico padrão-ouro para identificação do vírus SARSCoV-2 é realizado por meio das técnicas de reação em cadeia da polimerase, com transcrição reversa com amplificação em tempo real, ou RT-PCR, e sequenciamento parcial ou total do genoma viral. As amostras para esta análise podem ser obtidas por meio do aspirado nasofaríngeo, swab nasal e oral, bem como pela secreção respiratória do trato inferior, como escarro, lavado traqueal ou lavado broncoalveolar.4
No Brasil, pelo custo e pela rapidez, o método sorológico tem sido o mais utilizado para diagnóstico da doença. Os kits de diagnóstico sorológico para a enfermidade disponíveis atualmente detectam a presença de anticorpos, IgA, IgM e IgG, que são proteínas específicas que expressam uma resposta imunológica do indivíduo frente ao contato com o vírus.3 A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou uma nota técnica sobre acurácia dos testes diagnósticos para SARS- CoV-2/Covid-19 registrados no Brasil.5,6
O diagnóstico laboratorial exerce um papel essencial tanto para a predição e acompanhamento da doença Covid-19 quanto para os estudos de rastreamento epidemiológico do vírus SARS-CoV-2.3,4 Deste modo, o presente estudo tem como objetivo realizar uma revisão dos testes diagnósticos registrados e validados pela agência reguladora no Brasil para detecção vírus/doença: nível de acurácia, sensibilidade e especificidade.
MATERIAIS E MÉTODOS OU METODOLOGIA
O estudo é uma revisão das bases de dados do Ministério da Saúde (MS), do Sistema Único de Saúde (Sus), da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), da Sociedade Brasileira de Análises Clínicas (SBAC), entre outras, para identificar artigos relevantes em português e inglês publicados de março a novembro de 2020, com objetivo de selecionar publicações que contenham informações sobre os testes diagnósticos para SARS-CoV-2/Covid-19. A busca resultou em mais de 2.000 artigos no total. Foram analisados revisões, notas técnicas e registros de pesquisas clínico-científicas. Os autores revisaram de forma independente os títulos e resumos, levando em consideração como critério de inclusão: (a) segurança das fontes (oficiais, autênticas e/ou reconhecidas); (b) estudos clínico-científicos (notas técnicas e resoluções, artigos completos ou revisões); (c) idiomas (português e inglês); (d) período (dezembro de 2019 a novembro de 2020) e (e) palavras-chave, utilizando os termos: SARS-CoV-2, Covid- 19, testes, sorologia, diagnósticos, usados em separados e/ou combinados. Os trabalhos que apresentavam o enfoque das informações foram lidos na íntegra e deram origem aos resultados deste resumo.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Após o levantamento documental dos testes diagnósticos registrados na Anvisa, foram realizadas buscas na literatura científica para compilar dados de desempenho desses testes: metodologias usadas para detecção, nível de acurácia, sensibilidade e especificidade.5,6
Foram encontrados 64 produtos diagnósticos registrados, sendo todos eles vigentes e disponíveis comercialmente. Dos 64 testes registrados, 15 são RT-PCR, 38 são testes imunocromatográficos, seis são por ELISA, dois são imunoensaios por quimioluminescência (CLIA) e três atuam por imunofluorescência (FIA) para a detecção e diferenciação de anticorpos IgA, IgG ou IgM contra o coronavírus (SARS- CoV-2). Atualmente, mais da metade dos registros concedidos diz respeito a testes rápidos para anticorpos. Para os ensaios imunocromatográficos, as amostras a serem avaliadas são em sua maioria de sangue total, soro ou plasma, e o tempo para a leitura dos resultados variou entre 10 e 20 minutos. O tempo máximo para limite de leitura variou de 15 a 30 minutos.5,6
A especificidade (capacidade que o teste tem de ser negativo para indivíduos que não têm a doença) para os anticorpos do tipo IgM variou entre 94% a 98%, de acordo com o fabricante. Para os anticorpos do tipo IgG, observou-se uma oscilação entre 97% e 98%. A sensibilidade (capacidade que um teste tem de ser positivo em indivíduos que estão efetivamente doentes) para os anticorpos IgM variou entre 85% e 90% e para os anticorpos do tipo IgG, entre 95% e 100%. Alguns kits relataram a sensibilidade de testes individuais de IgM e IgG, de acordo com o número de dias da doença ou a partir das amostras iniciais de PCR coletadas.5,6
A sensibilidade e especificidade dos testes sorológicos variaram entre os fabricantes. É importante destacar que uma baixa sensibilidade do teste diagnóstico pode resultar em uma maior probabilidade de detectar falso-negativos, o que poderia interferir principalmente em casos de indivíduos assintomáticos. Em geral, a sensibilidade dos testes foi superior a 85% e a especificidade, superior a 94%.5,6
Os testes sorológicos medem a quantidade de dois anticorpos (IgG e IgM) que o organismo produz quando entra em contato com um invasor. Contudo, o desenvolvimento da resposta de um anticorpo à infecção pode ser dependente do hospedeiro e levar tempo. No caso de SARS-CoV-2, estudos iniciais sugerem que a maioria dos pacientes se converte entre sete e onze dias após a exposição ao vírus, embora alguns pacientes possam desenvolver anticorpos mais cedo. Devido a esse atraso natural, o teste de anticorpos pode não ser útil no cenário de uma doença aguda.5,6
Os testes de anticorpos para SARS- CoV-2 podem facilitar (i) o rastreamento de contatos (os testes baseados em RNA também podem ajudar); (ii) a vigilância sorológica nos níveis local, regional, estadual e nacional; e (iii) a identificação de quem já teve contato com o vírus.5,6
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pandemia do novo coronavírus trouxe a maior crise sanitária de nosso tempo, um grande desafio para a ciência, bem como para toda sociedade mundial. O diagnóstico para SARS-COV-2/Covid-19 está pautado na clínica do paciente, nos exames de imagem e no diagnóstico laboratorial. Com altíssimo potencial de disseminação, o rastreamento do vírus pautou a corrida por ações políticas de biossegurança, como a aprovação de testes com elevadas especificidade e sensibilidade na busca pelo patógeno/antígeno pelas agências sanitárias responsáveis pela avaliação, aprovação e regulamentação de tecnologias inovadoras no combate às doenças.
No Brasil, cabe à Anvisa chancelar a acurácia dos testes usados no diagnóstico para SARS-COV-2/Covid-19. Os testes permitem a pesquisa e detecção de anticorpos IgA, IgM e IgG em sangue total, soro ou plasma, através de testes sorológicos. Contudo, devido ao período conhecido como janela imunológica, falso-negativos podem ser observados. Assim, o padrão ouro de diagnóstico da doença é o RT-PCR, que se baseia na amplificação do material genético viral antes mesmo de o paciente apresentar sintomas. Vale ressaltar que o diagnóstico da Covid-19 não deve ser conclusivo somente com um tipo de resultado: positivo ou negativo. Deve haver uma associação das informações clínico-epidemiológicas, além de exames complementares, com o intuito de evitar a disseminação do vírus SARS-COV-2 através de indivíduos contaminados que deixem o isolamento após um único resultado – negativo.
REFERÊNCIAS:
1. Li L et al. Propagation analysis and prediction of the COVID-19, Infectious Disease Modelling, v. 5, p. 282-292, 2020. Disponível em:
https://doi.org/10.1016/j.idm.2020.03.002
2. Subbarao K, Mahanty S. Respiratory Virus Infections: Understanding COVID-19, Immunity, v. 52, n. 6, p. 905-909, 2020. Disponível em:
https://doi.org/10.1016/j.immuni.2020.05.00 4
3. Nogueira JMR, Silva LOP. Diagnóstico laboratorial da COVID-19 no Brasil. Revista Brasileira de Análises Clínicas: Edição Especial – COVID-19, v. 5, n. 2, p. 117-121, 2020. Disponível em:
http://www.rbac.org.br/wp- content/uploads/2020/10/RBAC-vol-52-2- 2020-revista-completa-1.pdf
4. Menezes ME, Lima LM, Martinello F. Diagnóstico laboratorial do SARS-CoV-2 por transcrição reversa seguida de reação em cadeia da polimerase em tempo real (RT- PCR). Revista Brasileira de Análises Clínicas: Edição Especial – COVID-19, v. 5, n. 2, p. 122-131, 2020. Disponível em:
http://www.rbac.org.br/wp- content/uploads/2020/10/RBAC-vol-52-2- 2020-revista-completa-1.pdf
5. Brasil. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC n° 348 de 17 de março de 2020. Define os critérios e os procedimentos extraordinários e temporários para tratamento de petições de registro de medicamentos, produtos biológicos e produtos para diagnóstico in vitro e mudança pós-registro de medicamentos e produtos biológicos em virtude da emergência de saúde pública internacional decorrente do novo Coronavírus. Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/- /resolucao-rdc-n-348-de-17-de-marco-de- 2020-248564332
6. Brasil. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Nota Técnica: Acurácia dos testes diagnósticos registrados na ANVISA para a COVID-19. Maio, 2020. Disponível em:
https://portalarquivos2.saude.gov.br/images/ pdf/2020/June/02/AcuraciaDiagnostico- COVID19-atualizacaoC.pdf